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Em 30 dias de Operação Verão, 29 pessoas morreram afogadas em SC

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Em 30 dias de Operação Verão, 29 pessoas morreram afogadas em SC

Estado – A cada 26 horas uma pessoa morreu afogada no litoral de Santa Catarina durante o primeiro mês da Operação Verão. O estado registrou 29 mortes em rios, cachoeiras e praias até o dia 12 de janeiro. Os casos começaram a ser contabilizados a partir de 12 de dezembro de 2019 e foram divulgados pelo Corpo de Bombeiros na manhã desta terça-feira (14).

A maioria morreu após se afogar em locais de água doce, com 18 vítimas em rios e cachoeiras. Nas praias, desde o início da operação, 11 pessoas perderam a vida. Conforme o Centro de Comunicação Social do CBMSC, o desrespeito às orientações de segurança é um dos principais fatores que contribuem para as estatísticas.

Entrar em locais fundos mesmo não sabendo nadar, entrar na água após o consumo de bebidas alcoólicas, pular de cabeça ignorando o risco de lesão de cervical e a falta de atenção às cabeças d’água no local estão entre os comportamentos que mais resultam em acidentes.

No primeiro mês da Operação Veraneio desta temporada, socorristas do Corpo de Bombeiros de Santa Catarina já fizeram 1.316 salvamentos e resgates no estado. O helicóptero Arcanjo operou em 246 ocorrências.

“Todo cuidado é pouco”, diz mãe de criança salva após afogamento
Era o último dia da família em Garopaba, no Litoral Sul catarinense. O retorno à Itajaí, onde moram, estava marcado para a tarde daquele 7 de janeiro de 2017. Logo depois do almoço, a lojista Evillyn Faita arrumava as malas para deixar a casa alugada durante o Ano Novo.

Foi em questão de segundos que a filha Pietra, de 11 meses, deixou de lado os brinquedos na sala e engatinhou em direção ao quintal do imóvel. A menina foi encontrada pela mãe desacordada dentro da piscina.

“Eu fui atender a minha outra filha e, quando voltei na sala, ela já não estava mais. Como a gente tava de veraneio, eu nem sabia o endereço, quem chamou os bombeiros foram os vizinhos”, recorda.

O primeiro atendimento foi feito pelo Corpo de Bombeiros de Garopaba, que levou a criança ao posto de saúde do município. Depois, ela foi transferida ao Hospital Infantil Joana de Gusmão, em Florianópolis, pelo socorristas do Batalhão de Operações Aéreas (BOA), por meio do helicóptero Arcanjo, do Corpo de Bombeiros Militar de Florianópolis.

Para Evellyn, foi como se a filha tivesse nascido novamente. Ela conta que Pietra sofreu uma parada cardiorrespiratória e chegou a ficar em coma. Recebeu alta após 21 dias de internação.

“Ela já engatinhava [na época do acidente] e quando a gente levou ela embora do hospital, ela voltou como um bebê recém-nascido. Não tinha movimento, tomava medicamento forte, ficou bem debilitada”, contou.

Hoje, prestes a completar 4 anos, Pietra nem parece a mesma criança que precisou enfrentar um desafio tão grande antes mesmo de completar o primeiro ano de vida. Nem o coma, a internação ou os medicamentos deixaram sequelas na menina. Nem mesmo um trauma em relação a água ela desenvolveu após o acidente.

“Aos poucos, ela foi melhorando. Tanto que a gente nem precisou fazer fisioterapia, ela é realmente um milagre. Hoje em dia ela ama água, praia, piscina, e esse é até o nosso medo”, diz a mãe, que hoje redobra os cuidados com as três filhas.

Evellyn também é mãe de outras duas meninas de 7 e 1 ano e meio de idade. Se para Pietra, a memória do acidente já parece algo distante, a mãe Evillyn conta que, para ela, o trauma só conseguiu ser superado recentemente.

“Este ano que eu consegui superar bem o que aconteceu. É muito perigoso, a gente nunca imagina que vai acontecer com a gente. Como ela só engatinhava e tinha adultos com ela junto, eu nunca imaginei. Coloquei brinquedos para ela em volta de onde eu a deixei, mas mesmo assim ela foi [na piscina]”, relatou.

Com a superação do trauma, veio também a atitude de prevenção. “Agora nós vamos colocar as três na natação”, conta.

Três anos após o acidente que quase tirou a vida da filha, Evellyn reforça o cuidado redobrado que é preciso ter com as crianças perto de locais com água.

“Todo cuidado é pouco, porque em questão de segundos acontece. Foge até do nosso controle. Se puder sempre manter a piscina sempre fechada, nenhum brinquedo em volta da piscina, que vá chamar a atenção deles”, recomenda.

Afogamentos no interior

Longe das praias, moradores do interior do estado buscam em rios, cachoeiras e açudes um refresco para o calor. Com o aumento das temperaturas, crescem também os riscos de afogamento em locais de água doce.

O primeiro mês da operação Veraneio 2019/2020 teve 18 mortes por afogamento, todas elas em locais que não contam a presença de guarda-vidas. Atualmente, apenas cinco municípios do interior do estado têm postos salva-vidas: Lages, Chapecó, Itá, Itapiranga e Mondaí.

É comum também moradores se banharem em locais que ficam dentro de propriedades privadas. “Existe um número muito grande de áreas de lazer privadas muito frequentadas pelas pessoas, é uma pratica comum nessa época do ano”, contou o comandante do Corpo de Bombeiros de Itapiranga, André Rauber.

Há uma instrução normativa do Corpo de Bombeiros catarinense que determina a presença de guarda-vidas e postos de observação em locais privados, entre outras medidas de segurança. A medida vale para “áreas recreativas exploradas economicamente” que tenham “piscina ou área recreativa com opção aquática de lazer, com profundidade superior a 1,20 m e com comprimento superior a 12 metros”.

Em alguns locais, os banhistas pagam um valor em troca do uso de banheiros e da infraestrutura oferecida pelo proprietário. Em outros, segundo Rauber, o ambiente é aberto ao público.

Foi em um desses locais de uso livre que o jovem Jonathan Henrique Alves Cardenal, de 21 anos, morreu após se a fogar no dia 5 de janeiro. Ele desapareceu enquanto tomava banho no rio Uruguai, no local conhecido como Volta de Capela, onde estava com familiares.

“Local próximo a uma corredeira, o volume do rio circula pelo canal do rio Uruguai. Além da Grande profundidade tem intensa correnteza, o que impossibilitou a atuação de mergulhadores”, disse Rauber.

As buscas ao jovem foram feitas por meio de barcos motorizados, caiaques e drones. O corpo foi encontrado dois dias depois, a 5,7 quilômetros do local onde Jonathan se afogou.

Além da correnteza, as dificuldades no acesso ao local, a turbidez da água e a profundidade excessiva de locais que, muitas vezes, não tem qualquer indicação de banho, são fatores que dificultam o trabalho dos socorristas na hora do salvamento.

Orientação, divulgação e acompanhamento

Essa foi a única morte por afogamento registrada em Itapiranga no município, de acordo com o comandante. O município é um dos cinco do interior do estado onde há guarda-vidas em locais de água doce, como rios, açudes e afins.

André Rauber tem percebido diminuição nos casos de afogamento na região. “Lembro que principalmente no início da minha carreira, há 15 anos, dificilmente passava uma temporada sem dois ou três afogamentos na região, era bem mais frequente”.

A presença de guarda-vidas fazendo trabalho preventivo no local, desde a temporada de 2014/2015, somada aos projetos de conscientização reforçados na região, têm sido fundamentais para isso, segundo ele.

“Nós fazemos orientação para que as pessoas prefiram esse lugar onde existe esse acompanhamento [com guarda-vidas]. Procuramos sempre trabalhar nessa área preventiva”, conta.

Há quatro áreas públicas bastante frequentadas pelos moradores do municípios. A área de lazer da Barra do Macaco é uma delas. Banhada pelo Rio Uruguai, na divisa entre os estados catarinense e gaúcho, o local costuma reunir cerca de 200 pessoas nos dias mais quentes. Motivo que o levou a despertar a necessidade em manter um posto salva-vidas aos fins de semana e feriado.

Outros locais, como a Associação dos Amigos do Rio Uruguai de Itapiranga (AARui), o Marco das Três Fronteiras na Linha Aparecida e uma área próxima à Linha Cotovelo, estão sinalizados com placas de orientação aos banhistas, segundo o bombeiro.

Também há os projetos Bombeiro Comunitário e Golfinho, existente no município há dois anos, que busca capacitar crianças sobre os perigos no mar. Nesta temporada, 449 crianças já foram orientadas, conforme dados do Corpo de Bombeiros Militar. (Com informações do G1)