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Nove hospitais de SC começam tratamento experimental para a Covid-19

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Nove hospitais de SC começam tratamento experimental para a Covid-19
Foto: Divulgação / Hospital Terezinha Gaio Basso

Em três meses o Brasil pode ter algum resultado que indique um possível tratamento eficaz para o coronavírus. O primeiro estudo clínico do país já está sendo desenvolvido e envolve unidades hospitalares de todas as regiões. A estimativa é de que 70 hospitais e 1,3 mil pacientes participem do tratamento experimental.

Em Santa Catarina, nove unidades hospitalares já se cadastraram para participar. São quatro hospitais em Joinville, duas unidades em Blumenau, duas em Florianópolis e uma em Criciúma.

A iniciativa é coordenada pela BRICNet (Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva) em parceria com o HCor (Hospitais do Coração), Albert Einstein e Sírio-Libanês e o Ministério da Saúde. Batizada de Coalizão Covid Brasil, a iniciativa dividiu o projeto em três estudos distintos com “braços” de grupos de pacientes.

O médico coordenador de UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) do Centro Hospitalar Unimed de Joinville, Glauco Westphal, explica que o projeto foi dividido em três estudos e dentro de cada um há grupos distintos de pacientes de acordo com a gravidade dos sintomas e com a medicação que será administrada.

Estudos com pacientes com sintomas leves, moderados e estado grave

O primeiro estudo, direcionado para pacientes com sintomas leves, há três grupos: no primeiro, será administrada a hidroxicloroquina; o segundo grupo será tratado com a associação de hidroxicloroquina e azitromicina e no terceiro grupo será realizado o tratamento padrão. Neste estudo devem participar 630 pacientes.

O segundo estudo, que deve contar com 440 participantes, será aplicado aos casos que manifestam sintomas moderados e foi dividido em dois grupos: o primeiro será tratado com hidroxicloroquina e o segundo com hidroxicloroquina associada a azitromicina.

Já o terceiro estudo, que é aplicado a pacientes em estado grave e deve contar com 284 pacientes, foi dividido em dois grupos e tem a adição de corticoide: no primeiro grupo, o tratamento será apenas com hidroxicloroquina e o segundo grupo será tratado com hidroxicloroquina associada a dexametasona.

Quatro hospitais em Joinville

Em Joinville, ressalta ele, os quatro hospitais cadastrados são o Centro Hospitalar Unimed, o Hospital Dona Helena, o Hospital Municipal São José e o Hospital Regional Hans Dieter Schmidt. Em todos eles, serão aplicados todos os estudos.

Apesar disso, ainda não há pacientes participando do tratamento na cidade. A liberação do processo de autorização da Unimed foi emitida e, a partir de agora, a unidade está apta a iniciar os grupos. Os outros hospitais estão em fase final de liberação e devem estar aptos no início da próxima semana, explica Westphal.

Ele diz ainda que não há como precisar quantos pacientes participarão do tratamento experimental, uma vez que esse número depende da quantidade de ocorrências e do voluntariado. “É importante ressaltar que o estudo é voluntário. Ninguém vai participar se não consentir expressamente, a participação é totalmente voluntária”, ressalta.

Análise dos efeitos dos medicamentos

O médico explica que o objetivo do tratamento experimental é testar o efeito de medicamentos já utilizados em outras situações no combate ao coronavírus. “São três cenários, testar se a hidroxicloroquina tem um efeito benéfico positivo, se a azitromicina tem esse efeito positivo ou possa agregar ao uso da hidroxicloroquina e ainda se a dexametasona pode ser uma droga com efeito positivo nos pacientes em estado grave”, diz.

Em contrapartida, há efeitos colaterais temidos que precisam ser levados em consideração e observados durante a testagem. O médico conta que o mais temido é que o uso da hidroxicloroquina pode induzir a distúrbios de condução e estímulos elétricos do coração. “Ela pode alterar o funcionamento da parte elétrica do coração e, com isso, predispor o indivíduo a uma arritmia grave”, fala. Westphal menciona ainda um estudo recente realizado em hospitais de Nova York que apontam que 30% dos pacientes podem desenvolver esses distúrbios.

“O importante dessa história em relação a hidroxicloroquina é que nós sabemos que uma parcela da população pode ter esse efeito colateral e nós temos dúvidas sobre os efeitos benéficos, por isso ela não pode ser prescrita indiscriminadamente. Estamos falando da segurança de toda a população”, destaca.

A preparação, salienta o médico, é o de treinamento da equipe para identificar os pacientes que podem participar do estudo, além de preparação e administração das drogas e auxílio aos pacientes e familiares. Todos os hospitais já possuem alas específicas para o tratamento da Covid-19.

Westphal ressalta a importância do estudo e da metodologia utilizada, que randomiza os pacientes que atendem aos critérios. “A importância de randomizar está no fato de que o pesquisador não pode influenciar no resultado. Independentemente do resultado final do estudo, é uma grande contribuição e vai deixar a situação mais claro se devemos utilizar ou não esse tipo de medicamento. A resposta vem no sentido de trazer uma resposta mais próxima da definitiva”, finaliza.

Hospitais na Capital, Médio Vale e Sul do Estado participam do estudo

Em Florianópolis, duas unidades participam do estudo. Uma é o Hospital Nereu Ramos, referência no tratamento de doenças pulmonares e infectocontagiosas e único da rede pública estadual que participa dos testes de eficácia da hidroxicloroquina até o momento.

Lá, o uso do medicamento foi iniciado na última sexta-feira (3), em um paciente com quadro leve, internado na unidade. Segundo a Secretaria de Comunicação do governo do Estado, outros hospitais da rede estadual estão aptos a entrar no estudo, mas aguardam a liberação regulatória.

A outra unidade na Capital é o Hospital Baía Sul, onde a pesquisa começou nesta segunda-feira (6). O hospital não divulgou quantos pacientes estão sendo testados. O Baía Sul participa do Coalizão I, estudo que avalia o efeito da hidroxicloroquina; da combinação de hidroxicloroquina e azitromicina ou o tratamento padrão (sem a inclusão dessas medicações) no desenvolvimento da doença em pacientes internados com quadro menos grave de insuficiência respiratória.

Avaliação prévia

Os pacientes vão passar por uma avaliação prévia do quadro clínico e serão monitorados de forma a garantir a segurança da pesquisa. O uso da medicação deve durar sete dias. Com 77 leitos de internação e 15 leitos de UTI, o Baía Sul já atendeu 94 pacientes suspeitos de Covid-19. Desses, 22 foram confirmados como portadores do novo coronavírus.

Em todo o País serão analisadas 630 pessoas infectadas pelo novo coronavírus. Nos próximos estudos, Coalizão II e III, serão analisados casos de pacientes em estado moderado a grave, que também serão submetidos a tratamento com hidroxicloroquina somente ou hidroxicloroquina acompanhado de azitromicina além de outras medicações com ação anti-inflamatória com inclusão de 440 e 284 pacientes, respectivamente.

Em Criciúma, no Sul do Estado, o Hospital São José também participa dos estudos. Segundo a farmacêutica e pesquisadora Danusa de Castro Damasio, do Centro de Pesquisa da unidade, o hospital já recebeu lotes específicos de hidroxicloroquina destinado ao uso em pacientes com Covid-19. Os testes já começaram há cerca de uma semana. “Vamos avaliar diariamente como estão os exames laboratoriais e a ventilação, mecânica ou ambiente, analisando se os pacientes apresentam melhora ou piora clínica”, afirma.

Paciente selecionado pelo médico

A pesquisadora explica que o paciente é selecionado pelo médico, obedecendo critérios pré-definidos. “Ele não pode ter histórico de doença renal, por exemplo”, diz. Se estiver dentro dos critérios adequados, o paciente é consultado sobre sua vontade de participar do estudo e assina um termo de consentimento para uso da medicação. Só então passará por um sorteio para definir se entrará no grupo que testará a hidroxicloroquina ou hidroxicloroquina associada à azitromicina.

O Hospital São José já testa os grupos I e II, para casos leves a moderados, e graves (com ventilação mecânica), respectivamente.

Em Blumenau, no Médio Vale, duas unidades participam do projeto, o Hospital Santo Antônio e a Clínica Angiocor. Até o momento, apenas um paciente iniciou o tratamento experimental no Coalizão I, para os sintomas mais leves.

De acordo com o médico Adrian Kormann, que coordena a pesquisa na cidade ao lado da infectologista Sabrina Sabino, o paciente iniciou o tratamento há uma semana, mas informações detalhadas do quadro e da evolução não serão repassadas.

“É importante comunicar a população que esse projeto segue toda a legislação do Comitê de Ética em Pesquisa e será aplicado em pacientes voluntários”, ressalta.

Ele conta ainda que três pacientes se voluntariaram para participar do projeto, mas dois deles não preencheram os critérios determinados.

O Hospital Santo Antônio já iniciou o processo para casos moderados e graves que necessitam de oxigenioterapia. (Informações ND Mais)