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Após saída tumultuada da BRF, Abilio Diniz afirma: ‘Essa empresa não é o negócio da minha vida’

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Após saída tumultuada da BRF, Abilio Diniz afirma: ‘Essa empresa não é o negócio da minha vida’

Em clima de despedida da presidência do Conselho da BRF em uma saída tumultuada, o empresário Abilio Diniz afirmou nesta sexta-feira (27/04) que deixa o cargo muito satisfeito, já que conseguiu atingir seus objetivos. Ele avalia que conseguiu pacificar a companhia, unir os acionistas e eleger um novo Conselho, que terá um presidente indicado por ele. O empresário afirmou que a Operação Carne Fraca, que atingiu a empresa com prisão de executivos e fechamento do mercado externo aos produtos exportados pela BRF, foi devastadora para a companhia.

— A BRF não é o negócio da minha vida. Não comecei a empresa como fiz no Grupo Pão de Açúcar. Mas enquanto estive feliz, fiquei. Mas já não tinha felicidade há um bocado de tempo. O clima difícil não me deixava feliz. Mas batalhei para ter os acionistas unidos e a ideia de indicar o Parente para a presidência foi minha. A BRF está preparada para crescer – afirmou o empresário numa teleconferência com jornalistas.

Diniz afirmou que teve uma relação boa com os demais fundos acionistas como a Tarpon, a Previ e a Petros. Mas que no último ano, teve mais dificuldades com a Petros. Afirmou que não enquanto a BRF continuar apontando na direção do crescimento, a Península, braço de investimentos do empresário que possui 7% das ações da BRF, não venderá sua participação.

Para ele, o conflito entre acionistas, que se arrastou por dois meses, até culminar em sua saída da presidência do Conselho nesta quinta-feira, foi uma coisa “normal do capitalismo” e que, agora, ele vai procurar algo que lhe dê mais prazer, alegria e satisfação.

— Quando vim para a BRF meu objetivo era transformá-la numa empresa global. Maior exportadora de frangos do mundo ela já era — resumiu.

Diniz disse que se sente orgulhoso se ser substituído por Pedro Parente, atual presidente da Petrobras. Na avaliação do empresário, Parente deixou saudades por onde passou, inclusive no serviço público. Além disso, a experiência do executivo à frente da Bunge, companhia de commodities, foi uma escola.

— Ele tem as características do cara ideal (para a presidência do Conselho da BRF). Tenho orgulho da pessoa que vai me substituir. Acredito que ele vai continuar valorizando as coisas boas que fiz — afirmou.

Diniz avaliou que seu maior legado à frente do Conselho da BRF foi deixar uma “cultura de gente”. Isso aconteceu nos últimos anos, quando ele se aproximou mais da gestão. A BRF perdeu muitos executivos antigos da companhia que saíram em direção aos concorrentes, como a JBS, por não se adequarem ao estilo mais financista imposto pelos executivos de Abilio.

— Gente é o mais importante. É preciso valorizar as pessoas. É preciso colocar gente certa no lugar certo. E quando vim para a BRF meu objetivo era transformá-la numa empresa global. Maior exportadora de frangos do mundo ela já era — disse ele.

A última renúncia na cúpula da BRF, nesta semana, foi a de um profissional também indicado por ele, o CEO José Aurélio Drummond. Para Abilio, Drummond fez um bom trabalho à frente da empresa, embora tenho ficado apenas seis meses no cargo. Disse que não conhecia o executivo até o ano passado, mas ficou impressionado por sua figura quando o entrevistou para integrar o Conselho.

— Mas é um ser humano. Sofreu muita pressão e não se sentiu seguro para continuar no cargo – afirmou Diniz, que afirmou que Pedro Parente deverá criar um comitê para escolher nomes para suceder Drummond na presidência da BRF. O empresário disse que, se for consultado sobre a escolha, poderá dar sugestões, mas afirmou que essa é uma atribuição do Conselho.

Sobre a Operação Carne Fraca, que levou à prisão do antecessor de Drummond, o executivo Pedro Faria, Abilio afirmou que ela foi devastadora para a empresa. Ele garantiu que a qualidade dos produtos da BRF está no nível de empresas mundiais, como a Tyson, e que o mercado internacional acabou fechando a entrada para produtos brasileiros, tirando vantagem desse problema.

— É uma oportunidade deles renegociarem preços. Eles tiram vantagem e fecham as portas. Estamos no melhor nível de qualidade do mundo – afirmou.

Diniz reconhece entretanto que houve problema de gestão, inclusive de gestão de gente, e que não interveio porque esta não era sua função como presidente do Conselho. Afirmou que atualmente os processos de produção da empresa foram reorganizados e que os prejuízos verificados em 2016 e 2017 foram frutos de uma conjuntura econômica adversa, com excesso de estoques no mercado.

O empresário afirmou que não faria nada diferente do que fez à frente da BRF. Garante que aprendeu muito e que os desentendimentos entre acionistas são normais em empresas globais, com o capital pulverizado, como a BRF.

— Foi dada muita ênfase a uma briga entre Abilio e os fundos. Ma no final tudo teve um final feliz. Isso é uma coisa normal de mercado,de companhias abertas, do capitalismo. Mas o Brasil não está acostumado a esse ativismo de acionista que compram ações para participar a gestão das companhias. Não aconteceu nada de extraordinário – afirmou.

Agora, Abilio disse que pretende se dedicar á sua participação no Carrefour global e no Brasil, Também está lançando a plataforma digital Plenai, em que convida pessoas com experiência a dividir suas experiências.

— Mas o Abilio não é só business. Tenho meus estudos de longevidade com qualidade de vida, dou aula na Fundação Getulio Vargas e quem tem criança pequena em casa e esposa jovem tem que cuidar disso. Tem três coisas que eu odeio: cebola, despertador e despedidas – afirmou o executivo.

Pedro Parente, atual presidente da Petrobras, foi confirmado como novo presidente do Conselho da BRF na noite desta quinta-feira, sucedendo o empresário Abilio Diniz no posto. A assembleia de acionistas foi realizada em Itajaí, em Santa Catarina, sede da empresa.

A escolha dos novos membros do Conselho de Administração da BRF foi feita através de voto múltiplo, em que os acionistas votaram individualmente nos nomes indicados, conforme determinação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão que fiscaliza o mercado de capitais.

Ontem a gestora de recursos inglesa Aberdeen havia retirado o pedido de voto múltiplo , o que obrigaria os acionistas a votarem numa chapa única. O problema é que muitos acionistas já haviam enviado seu voto através de formulário utilizando o sistema de voto múltiplo.

Os demais membros eleitos do Conselho foram: Augusto Marques da Cruz Filho, Dan Ioschpe, Flavia Buarque de Almeida, Francisco Petros, José Luiz Osório, Luiz Fernando Furlan, Roberto Antonio Mendes, Roberto Rodrigues e Walter Malieni Jr. (Fonte: Revista Época)