Por 2 votos a 1, foi anulado o júri que condenou Alexsandro Alves Gunsch a 26 anos e 8 meses de prisão pela morte da ex-companheira Débora Michels Rodrigues da Silva. A sessão foi realizada na 1ª Câmara Especial Criminal do Tribunal de Justiça do RS nesta terça-feira (18). Cabe recurso.
A Justiça do RS não deu detalhes sobre o que motivou os votos que levaram à anulação.
O julgamento ocorreu em abril deste ano. Alexsandro foi condenado por homicídio qualificado por feminicídio, motivo torpe, meio cruel e recurso que dificultou a defesa da vítima. O corpo de Débora foi encontrado em uma calçada, em frente da casa dos pais em Montenegro, na Região Metropolitana de Porto Alegre.
Os advogados de Alexsandro afirmaram que o resultado “já era uma consequência jurídica esperada”. “Seguiremos atuando com responsabilidade e vigilância, confiando que o novo julgamento ocorrerá com a lisura e o respeito aos preceitos constitucionais, em especial o direito irrenunciável ao juiz imparcial”.
Alexsandro foi preso preventivamente dois dias após o crime. Ele permanece recolhido na Penitenciária Estadual de Canoas I, confirmou a defesa ao g1.
Três testemunhas e um perito foram ouvidos no julgamento, além do acusado, que foi interrogado.
Relembre o caso
Conforme o MP, Alexsandro cometeu o crime na residência do casal, por volta das 3h do dia 26 de janeiro, de forma premeditada, por esganadura, ao levantar Débora do chão até que ela desfalecesse.
Logo depois, Alexsandro teria abandonado o corpo em frente à casa dos pais de Débora, enrolada em um cobertor. A certidão de óbito atestou que a causa da morte foi asfixia mecânica.
O homem foi preso preventivamente dois dias após o crime. À polícia, ele teria confessado, dizendo que os dois começaram a discutir em casa, mas que a discussão acabou virando uma briga com mútuas agressões.
Segundo a investigação, Alexsandro contou ter jogado a companheira contra um móvel. Ela teria perdido a consciência. Na sequência, ele teria levado a mulher para receber atendimento médico, mas, ao perceber que estava sem sinais vitais, teria decidido deixá-la numa calçada, em frente à casa dos pais dela.
Depoimentos de familiares marcaram a primeira parte do julgamento de Alexsandro Alves Gunsch. Três pessoas foram ouvidas pela parte da manhã.
O primeiro a falar foi Alex Rodrigo Michels, irmão da vítima. Na condição de testemunha de acusação, o familiar sustentou que a mãe deles chegou a comentar que Débora tinha intenção de se separar do réu. O relato, conforme o depoimento, teria ocorrido na semana do crime.
Em seguida, a mãe da personal trainer, Rosane Maria Michels da Silva, foi ouvida como informante.
O terceiro a ser ouvido foi o pai de Débora. Davi Rodrigues da Silva falou que dias antes do ocorrido a filha pediu apoio para se mudar da casa que morava com o ex. Na ocasião, a vítima teria relatado que se sentia vigiada pelo então companheiro. O fato até então era desconhecido pela família.
Interrogatório do réu
Alexsandro foi ouvido durante júri e relatou que jogou Débora contra um armário, o que a fez cair no chão.
“Levantei ela pelo pescoço e joguei contra o roupeiro, até a porta saiu do lugar”, contou o réu. “Não sei se fez muita força, e ela foi desfalecendo. Eu grudei ela no colo e fui em direção ao carro, peguei o telefone que estava na guarda do sofá e botei ela no carro”, disse.
Inicialmente, o júri estava previsto para ocorrer em 6 de março, mas foi suspenso após o réu demitir a advogada que o representava. Alexsandro respondeu as perguntas da juíza de Direito Débora Vissoni e da Promotoria.
Depois, Alexsandro contou que teria saído com o veículo. No entanto, quando percebeu que Débora estava morta, levou o corpo para a frente da casa dos pais dela, enrolado em um cobertor.
“Eu estava com a mão nela, assim, e não senti mais o pulso. Na faixa vindo para o Montenegro, eu parei o carro e botei a minha boca na dela e não senti a respiração. Aí eu vi que tinha perdido ela”, relatou.
Durante interrogatório, o réu explicou o que teria acontecido, segundo a versão dele, no dia 26 de janeiro de 2024. Ao longo da fala, Alexsandro admitiu que havia usado cocaína no dia do crime.
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Débora Michels, de 30 anos, era personal trainer e foi encontrada morta em Montenegro nesta sexta-feira (26) — Foto: Redes Sociais
Débora tinha um perfil voltado a dicas de exercícios e temas afins nas redes sociais. Ela era licenciada e bacharela em Educação Física, com especialização em musculação, ritmos, cross training, entre outros. Débora atuava desde 2011 como profissional do ramo.
A mulher mantinha um relacionamento com o acusado havia mais de 10 anos. Segundo a família da vítima, nenhum comportamento violento havia sido percebido. Quando soube da decisão da filha pela separação, o pai de Débora, Davi Rodrigues da Silva, decidiu conversar com o genro.
“‘Vai seguir tua vida’, eu falei para ele. ‘Pode arrumar uma companheira que vai te entender’, e ele, ‘não, perfeitamente’, ele me dizia, ‘perfeitamente, é isso aí mesmo que eu quero, já tô dando um jeito'”, disse Silva.
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Réu Alexsandro Alves Gunsch — Foto: Divulgação/ TJRS



